O dólar opera em alta nesta terça-feira (17), e chegou pela primeira vez à casa dos R$ 6,20. Na máxima do dia, a moeda norte-americana chegou a R$ 6,2065.
A valorização ocorre porque pioraram as expectativas do mercado financeiro com o desenho do pacote de cortes de gastos enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional. A ideia é economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030.
O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público pelos próximos dois anos — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025. São as regras definidas pelo arcabouço fiscal, o conjunto de normas para controle das contas públicas.
O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público. Mas os investidores já não acreditam que as medidas tomadas pelo governo até aqui tenham o potencial para conter o avanço da dívida pública no longo prazo.
O mercado tinha a expectativa de que o governo mexesse em gastos estruturais nesse pacote de corte de gastos — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação. Isso não aconteceu.
Segundo os analistas, essas despesas tendem a subir em velocidade acelerada e têm potencial de anular esse esforço do pacote em pouco tempo. O governo, contudo, é avesso às medidas, que mexeriam com políticas públicas e com promessas de campanha do presidente Lula.
O texto proposto pelo governo pode ser analisado ainda nesta semana pela Câmara dos Deputados. Analistas ficam de olho em que mudanças podem ser realizadas pelos parlamentares, e também na perspectiva de qual será o roteiro para aplicá-las.
Segundo o blog do Valdo Cruz, para evitar uma desidratação das medidas propostas e garantir a aprovação do pacote, o governo prepara mais R$ 800 milhões de emendas parlamentares para serem liberadas nesta reta de final de ano, além dos R$ 7,6 bilhões já empenhados para deputados e senadores até esta segunda.
Além disso, a alta do dólar ocorre também após a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC), que avaliou justamente a disparada da moeda nas últimas semanas como um dos fatores para aumentar os juros brasileiros. (leia mais abaixo)
Nesta terça, o BC chegou a intervir mais duas vezes no mercado de câmbio para reduzir a pressão do dólar sobre o real. O primeiro leilão vendeu US$ 1,2 bilhão, o segundo, US$ 2 bilhões.
As intervenções fizeram a moeda estrangeira desacelerar um pouco por volta das 9h40 e das 12h30, mas o movimento de forte alta não foi revertido.
Apesar do cenário ruim, o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, opera em alta.
Às 14h, o dólar opera em alta de 0,27%, cotado a R$ 6,1108.
Na segunda-feira, a moeda norte-americana subiu 0,99%, cotada a R$ 6,0942, em um novo recorde nominal (que é o valor da moeda sem ajuste pela inflação).
Com o resultado, acumulou:
O BC divulgou nesta terça-feira a ata da última reunião do Copom, e mostrou que a disparada do dólar em conjunto com a piora do sentimento dos agentes econômicos sobre o pacote de corte de gastos foram determinantes para a forte alta na taxa básica de juros na semana passada.
No dia 11, o Copom elevou a Selic em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano. Além disso, antecipou que fará outras duas altas de mesma magnitude nas próximas reuniões. Isso deve levar a taxa Selic a um patamar de 14,25% ao ano.
Na ata, o Copom diz que esse cenário "afetou, de forma relevante, os preços de ativos" (como dólar e juros futuros), e que o repasse de um dólar mais alto para os preços dos produtos e serviços é perigoso para a inflação.
"Desse modo, o Comitê deve acompanhar de forma mais detida como se dará a transmissão da taxa de câmbio e das condições financeiras para preços e atividade", avaliou o Banco Central.
Sobre a proposta de pacote fiscal anunciada pelo governo, que gerou tensão no mercado financeiro, o BC avaliou que a "percepção dos agentes econômicos afetou, de forma relevante, os preços de ativos, assim como as expectativas especialmente o prêmio de risco (juros), as expectativas de inflação e a taxa de câmbio".
Com a piora das expectativas de inflação, o BC afirma que o cenário se tornou "mais adverso e requerendo uma política monetária mais contracionista [alta maior dos juros]".
Desde o fim da semana passada, o BC voltou ser mais ativo para tentar conter o forte avanço do dólar, e passou a intervir na taxa de câmbio com a realização de leilões de dólar.
Desde então, foram cerca de US$ 12,7 bilhões injetados no mercado, entre os leilões de linha (em que o BC recompra esses dólares para mantê-los nas reservas internacionais) e à vista (em que a moeda é apenas vendida, e não retorna).
Enquanto o quadro fiscal do país permanece no radar dos investidores, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez uma visita ao presidente Lula nesta segunda (16). O petista recebeu alta hospitalar no domingo (15), após ter feito uma cirurgia de emergência para drenar um hematoma na cabeça.
Durante o encontro, Haddad disse que tratou sobre a reforma tributária e o pacote de cortes de gastos enviado ao Congresso com o presidente, e reforçou aos jornalistas que o apelo do presidente é para que as medidas não sejam desidratadas pelos parlamentares.
"O presidente disse ontem que ninguém se preocupa mais com a questão fiscal quanto ele. Por isso, o apelo que ele está fazendo é para que as medidas não sejam desidratadas", afirmou o ministro.
"Temos um conjunto de medidas que garante a robustez do arcabouço fiscal e para garantir que vamos continuar cumprindo com as metas nos próximos anos", acrescentou.
Fonte: Portal G1