Entre janeiro e março de 2023 já ocorreram 1117, enquanto no mesmo período do ano anterior foram 1018, o que representa um aumento de 9,7%. Somente no último mês de março foram 490 casos, que, comparados ao resultado de 2022, significam alta de 44,10%.
Os caminhões levados na manifestação carregavam faixas mostrando a apreensão da categoria: "Roubo de carga: Já morreram 3 motoristas. Quantos mais ainda precisam morrer?". Outra faixa exibia: "Roubo de carga: agride a sociedade, gera mais desemprego e produtos mais caros à população".A concentração dos caminhoneiros foi na Avenida Brasil, na altura do Mercado São Sebastião, na Penha, zona norte do Rio. A manifestação seguiu em carreata e, na altura da Pavuna, fizeram o retorno na Rodovia Presidente Dutra, prosseguindo em sentido oposto da Avenida Brasil até o bairro do Caju, na região portuária. De lá, os caminhões voltaram para o ponto de partida.
O diretor-presidente da Logística Brasil- Associação Brasileira dos Usuários dois Portos, de Transportes e de Logística, André de Seixas, além da entidade, a manifestação, que durou cinco horas, foi organizada por empresas de transportes rodoviários, com a participação dos caminhoneiros. A intenção foi chamar atenção para a situação que se agrava a cada dia com os casos de roubos de carga no Rio de Janeiro.
"O protesto foi muito bem-sucedido. Não parou o trânsito, foi feito de forma ordenada, respeitamos as pessoas, não paramos a Avenida Brasil. Tudo fluiu conforme tinha que ser e o protesto foi registrado. Era o que a gente queria, que a imprensa jogasse luz no roubo de carga, ressaltou, em entrevista à Agência Brasil.
Na avaliação de Seixas, a característica da criminalidade do Rio provoca influência na prática deste tipo de crime. "São Paulo tem uma facção dominante. E se a polícia invade o que eles chamam de quebrada, a facção recua e, com a saída da polícia, volta porque sabe que nenhuma facção vai tomar o espaço. No Rio, tem muitas facções. Se a polícia entra e a facção recua, outra pode ir tomar o território. Esse é o problema do Rio de Janeiro. É questão territorial", afirmou.
Para o transportador, diante da ação intensa dos criminosos, a polícia precisa ser melhor equipada, porque a estratégia da criminalidade é levar os veículos para dentro das comunidades. De acordo com ele, embora venha agindo no combate ao roubo de carga, o trabalho policial não é completo por causa da vigência da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635. Movida pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), a ação levou o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante o período de pandemia, em 2020, a restringir a realização de operações policiais nas comunidades do Rio, que passaram a ser permitidas apenas em situação de excepcionalidade.
Seixas disse que a criminalidade está se equipando dentro das comunidades com o resultado do roubo de carga. "Estão com galpões, com empilhadeiras e sistema logístico e o perfil de roubo de carga está mudando aos poucos, está acrescentando."
Antes, os frutos dos roubos vendidos nos trens eram biscoito, chocolate, arroz, um eletrodoméstico mais barato, mas agora o perfil do roubo de carga está começando a entrar no insumo industrial. "Dois exemplos são o ferro silício e o polietileno, insumos para a indústria. Tem um receptador grande aí por trás", acrescentou.
Apesar de considerar que a polícia também vem agindo no combate aos receptadores com ações de inteligência, comentou que o trabalho esbarra às vezes na dificuldade de comprovar o vínculo de um empresário com o produto do roubo, agravada pelo fato da pena por receptação ser muito branda.
Seixas afirmou que a categoria está se movimentando também para buscar encontros no legislativo e já fez contato com a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para marcar uma audiência para discutir o problema. A categoria quer ainda uma reunião no Congresso Nacional com a bancada federal do estado e estender o debate para outras esferas de poder. "Isso tem que envolver o nosso Judiciário, o Ministério Público, a Alerj, o governo do Estado, o Executivo. A polícia já está envolvida diretamente. Nossa bancada, em Brasília, tem que atuar nisso, os deputados têm que se unir em torno do Rio de Janeiro", comentou.
O diretor-presidente traçou um cenário preocupante caso o problema não seja resolvido em pouco tempo. "A coisa está indo para um caminho em que vai chegar a hora que não vai sair veículo para transportar carga, porque ninguém vai querer bancar o risco de vida. A gente está caminhando para isso é o próximo passo, vai desabastecer não tem condição de sair", alertou.
O percurso dos caminhoneiros foi acompanhado por equipes da Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio (CET-Rio), que confirmou a falta de interferência no fluxo de veículos. Ao mesmo tempo havia na cidade uma manifestação de motoristas de aplicativos na Avenida Presidente Vargas, no centro, em direção à Praça da Bandeira, na zona norte.
"Ambas as manifestações são acompanhadas por policiais militares e operadores da CET-Rio. Cumpre destacar que o Centro de Operações tinha o conhecimento dos protestos, e, por isso, dedicou já nas primeiras horas da manhã operadores exclusivos para o acompanhamento dos dois eventos", informou.
De acordo com a Secretaria de Estado de Polícia Militar o acompanhamento da manifestação dos caminhoneiros foi feito por equipes do Batalhão de Policiamento em Vias Expressas (BPVE).