O diretor artístico da Flip, Mauro Munhoz, destacou que o ponto fundamental que caracteriza o trabalho da dupla de curadoras é que "tanto a Fernanda quanto a Milena são leitoras de vários conjuntos, de vários Brasis. São faróis que iluminam caminhos ainda pouco percorridos na nossa paisagem cultural e literária ".
Tradição
Fernanda Bastos ressalta que o desejo da curadoria na Flip 2023 é seguir honrando a tradição da festa e reproduzir uma porção diminuta da polifonia que é característica de uma população diversa e curiosa como é a brasileira, sem perder de vista que a literatura não precisa estar distante e dissociada do desejo de vida "de cada um e cada uma de nós".Milena Britto diz que a Flip 2023 será tão emocionante, singular e inusitada quanto a anterior. Ela destaca que o Brasil tem uma expressão artística potente, complexa e de maneira alguma estagnada. "Mesmo com tantos esforços feitos nos últimos anos para se entender e divulgar as várias páginas que formam esse Brasil literário, a nossa produção tem sido ainda mal lida ou mal aproveitada em algumas zonas, na maioria das vezes por resquícios de uma prática de leitura ainda apegada a modelos hegemônicos. O ponto fundamental da nossa curadoria é que nos entendemos leitoras de vários conjuntos, de vários Brasis; assim, este caráter de iluminar diferenças, diálogos, encontros e mesmo desencontros, continua presente e pulsante, mas pode ser pulsante em outro ritmo".
No ano passado, a homenageada foi Maria Firmina dos Reis. Já o nome da autora ou autor homenageado desta edição está em fase de definição e será anunciado em breve. Sobre a escolha, Fernanda Bastos adiantou que a ideia é olhar para mentes inquietas e disruptivas que nem sempre foram vistas como brilhantes em seu tempo, "mas que, por sua coragem de produzir mesmo sem legitimação, nos deixaram uma obra pujante e inspiradora". Milena Britto acrescentou que haverá uma homenagem com a cara de um Brasil de hoje, de ontem e do futuro. "Não é fácil escolher um nome só; o nosso Brasil é um jardim de flores-nomes nos convidando a colhê-las".
Fernanda Bastos esclareceu que a diversidade e o olhar curioso para a literatura e as artes são marcas do trabalho das curadoras e serão destacadas nesta edição. "E isso precisa acontecer de forma natural, sem sobressaltos ou senões, porque vivemos em um mundo diverso em que as complexidades e os desafios de comunicação devem ser enfrentados com lucidez e generosidade", disse à Agência Brasil. A curadoria já está trabalhando no processo de delinear as diferentes atrações da Flip.
Currículos
Milena Britto dedica-se, entre outros temas, a pesquisas sobre gênero, literatura e estratégias de legitimação no campo literário. Tem sido professora visitante em universidades da América Latina e dos Estados Unidos. A partir de julho, ela estará na Universidade de Berkeley, Califórnia. Além da carreira acadêmica, tem atuação em políticas públicas para a área de literatura, participa de ações voltadas para a difusão de leitura, é crítica literária e curadora de diversos projetos culturais.
Nascida em Porto Alegre, Fernanda Bastos fundou, em 2018, junto com o crítico literário Luiz Mauricio Azevedo, a Figura de Linguagem, editora negra e independente, que foi reconhecida com Homenagem Especial do Prêmio Açorianos de Literatura de 2019. Dentre as escritoras publicadas pela casa editorial gaúcha, estão Maria Firmina dos Reis, June Jordan, Virginia Brindis de Salas e Lucy Terry. Fernanda é mestra em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e autora de Os árbitros, as botas, as melancias e os postes (Figura de Linguagem) e Selfie-purpurina (Peirópolis), entre outras obras. Na TVE RS, atua como apresentadora do Redação TVE.