Por conta da pandemia de covid-19, o bloco teve suas atividades interrompidas, mas a festa vai agitar o Rio com eventos que prometem encantar os amantes da cultura afro-brasileira, a partir das 14h, na sede do Museu de História e Cultura Afrobrasileira (Muchab), no bairro da Gamboa, zona portuária da cidade.
O bairro é um tradicional centro da cultura afro-brasileira, por causa da chegada de navios trazendo escravos que desembarcavam no porto do Rio, conhecido como Pequena África.O Afoxé Filhos de Gandhi foi inspirado no Ijexá Filhos de Gandhy, bloco carnavalesco criado dois anos antes em Salvador e que se apresentava recreativamente tocando o ijexá, cantando em iorubá e dançando coreografias dos orixás. O termo afoxé foi adotado em alusão às saídas religiosas onde filhos de santo dispostos em cortejo depositavam oferendas no mar, rios e matas, sendo o bloco também chamado de candomblé de rua.
Seus integrantes moravam majoritariamente em bairros afastados da área central da cidade, eram das camadas populares e trabalhavam como autônomos ou prestadores de serviços. Era através da articulação de suas casas de candomblé que eles movimentavam uma intensa troca de dádivas com orixás, governantes, comerciantes, movimentos sociais e a população em geral.
Depois de passar anos sem sede social, usando o espaço de outras agremiações, em 1997 a diretoria passou a ocupar um velho casarão abandonado na rua Camerino, sopé do Morro da Conceição, na região central da cidade.
Sem telhado, com vegetação alta e lotado de entulho, os integrantes do Gandhi limparam o terreno, pintaram as paredes e afixaram uma placa de identificação na fachada. No interior, abrigavam atabaques, vasos de plantas, bichos de estimação, roupas, mesas e cadeiras. Ali, eles participavam de atividades religiosas e recreativas. O sobrado se tornou um espaço habitado por humanos, orixás, plantas, animais e objetos.
Para marcar a festa, o projeto apresenta um documentário que conta a trajetória da agremiação, incluindo eventos marcantes como a Lavagem do Monumento de Zumbi dos Palmares, o Balaio das Yabás, o Dia Nacional do Samba e a Procissão de Yemanjá, entre outros.
Também foram realizadas pesquisas nos arquivos públicos e privados da cidade para reunir todo tipo de material referente ao bloco no passado. O objetivo é transformar o site da instituição em um verdadeiro acervo da memória dos Filhos de Gandhi, disponibilizando informações e conteúdos históricos para o público.
Dentre as principais ações do projeto, destacam-se a exibição do longa-metragem que conta a história do bloco, a modernização do site com a inclusão dos materiais de arquivo e a realização de quatro apresentações presenciais no Museu de História e Cultura Afrobrasileira.
A apresentação final será precedida por uma mesa de debate que discutirá a importância dos blocos de embalo no carnaval carioca. A mesa de debate e a apresentação serão registradas em vídeo e disponibilizadas no YouTube. A programação dos eventos paralelos já está definida e promete atrair uma multidão de foliões e apreciadores da cultura afro-brasileira.
A idealização do projeto é do diretor Rodrigo Moraes que, nos últimos anos, realizou diversos trabalhos relacionados com a cultura popular, com especial atenção à zona portuária do Rio de Janeiro.
O cineasta lançou no ano passado o longa-metragem Okutá Ió em um evento que também contou com uma exposição de fotografias do diretor e do fotógrafo do Morro da Providência, Maurício Hora.
Em 2023, a partir de material extra do documentário lançado em 2022, ele idealizou o filme inédito sobre o grupo de Afoxé mais antigo do Rio, o Afoxé Filhos de Gandhi – 70 anos de carnaval. A celebração dos 70 anos dos Filhos de Gandhi promete resgatar a memória dessa agremiação tão importante para a cultura carioca.
Com uma programação diversificada e envolvente, os eventos paralelos garantem momentos de muita música, dança, devoção e reflexão sobre a contribuição dos blocos de embalo para o carnaval carioca. A cidade se prepara para viver uma experiência repleta de emoção ao som dos tambores do afoxé.
O diretor Rodrigo Moraes explica que o filme traz como novidade a abordagem de eventos do bloco que vão além do carnaval. "O que eu acho legal é que a gente gravou os Filhos de Gandhi em diversos outros eventos que acontecem na região portuária que não são eventos exatamente do Gandhi, mas que o Gandhi em forma de parceria estava junto, como o Balaio das Yobás, que ocorre em dezembro em homenagem a Oxum, esse seria um exemplo. A gente gravou também a Feijoada do Gandhi, que é uma coisa mais interna, para saber como é uma feijoada, como é uma festa interna do bloco", argumenta.
O Muchab situa-se na rua Pedro Ernesto, 80, na Gamboa. A festa começa com a apresentação do novo site do bloco e da estreia do documentário Afoxé Filhos de Gandhi – 70 anos de carnaval, com um debate que terá tradução simultânea em libras. Em seguida, haverá apresentação do bloco, com a degustação de cachaça com rapadura durante um coquetel.
*Colaborou Carolina Pessoa, repórter da Rádio Nacional do Rio de Janeiro