"A mim não importa, não importa do ponto de vista do Brics, quem ganha as eleições na Argentina. Todo mundo sabe que eu sou amigo do Alberto Fernández [atual presidente], mas quando tiver uma eleição, o Brasil, enquanto Estado, vai negociar com o Estado argentino, independentemente de quem seja o presidente. Pode ser que o presidente não queira negociar com o Brasil, é um direito livre soberano dele, ninguém vai obrigar", disse.
O candidato populista de extrema-direita, Javier Milei, foi o mais votado nas eleições primárias da Argentina e é contrário à entrada do país no Brics.Lula deu entrevista coletiva em Joanesburgo, na África do Sul, onde participou da 15ª Cúpula de chefes de Estado do Brics, que terminou hoje. O grupo aprovou a entrada de seis novos países no grupo, a partir de janeiro de 2024: Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã.
"A responsabilidade que nós tomamos hoje, e é isso que dá seriedade da escolha da Argentina, é que a gente não está colocando a questão ideológica dentro dos Brics. A gente está colocando a importância geopolítica de cada Estado e você sabe que a Argentina é muito importante na relação com o Brasil", disse Lula aos jornalistas.
Diversos países pediram adesão ao bloco. O critério, segundo Lula, além da importância geopolítica e econômica, foi atender aqueles que estavam na fila há mais tempo. O presidente defende uma maior cooperação entre países em desenvolvimento, além de novos modelos de financiamento, comércio e desenvolvimento.
"Nós éramos chamados de terceiro mundo, depois cansaram e começaram a chamar de países em via de desenvolvimento e agora nós somos o Sul Global. Veja a mudança de nome, que pomposo. O que é importante nisso é que o mundo está mudando. A economia também começa a mudar, a geopolítica começa a mudar porque as coisas vão acontecendo e a gente vai ganhando consciência de que nós temos que nos organizar", afirmou.
"O nosso [bloco, o Brics] não pensa só economicamente, o nosso também pensa politicamente. E é por isso que eu acho que o Brics está consolidado como uma referência. Qualquer ser humano, jornalista, cientista político que quiser discutir a geopolítica econômica, a geopolítica científica e tecnológica, a geopolítica de qualquer coisa vai ter que conversar com o Brics também, não é só com Estados Unidos e G7 [grupo de sete dos países mais industrializados do mundo]", acrescentou o presidente.
Durante a cúpula, também ficou acordado que os bancos centrais e ministérios da Fazenda e Economia de cada país ficarão responsáveis por realizar estudos em busca da adoção de uma moeda de referência do bloco para o comércio internacional, em alternativa ao dólar.
Segundo Lula, uma solução deve ser apresentada na próxima reunião do Brics, na Rússia.
À margem dos eventos do Brics, Lula se encontrou pela primeira vez, na tarde desta quinta-feira, com o presidente do Irã, Ebrahim Raisi.
No encontro, Raisi agradeceu a entrada do país no Brics e afirmou que deseja ampliar as relações comerciais entre os dois países. O presidente do Brasil lembrou que, em 2022, o Irã foi o maior importador de produtos brasileiros no Oriente Médio. Com um volume de quase US$ 4,3 bilhões em produtos, o Irã ficou em 18º na lista geral de maiores importadores do Brasil em 2022.
"O presidente Raisi contou que seu país avançou na produção de equipamentos médicos e nas áreas de ciência e indústria. O avanço foi necessário por conta das sanções adotadas por muitos países ocidentais contra o Irã", informou o Palácio do Planalto, em comunicado.
Nesta noite, Lula viaja para Angola, onde fará uma visita de Estado amanhã (25) e sábado (26). Depois, segue para São Tomé e Príncipe, para participar da conferência de chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), no domingo (27).