Em sessão solene em homenagem aos 70 anos da companhia, nesta segunda-feira (2), na Câmara dos Deputados, o diretor-executivo de processos industriais da petroleira, William França, defendeu que a transição energética deve estar associada à exploração de petróleo na margem equatorial, faixa do território que vai do litoral do Rio Grande do Norte ao do Amapá.
Para o executivo, "o combustível fóssil é, e ainda será por muitos anos, o motor da economia mundial, inclusive no Brasil". Por isso, França argumentou que é preciso associar a produção de combustível fóssil à transição energética."A companhia está investindo forte na descarbonização das suas atividades. A Petrobras tem condições de liderar a transição energética", destacou o diretor no Plenário da Câmara. França acrescentou que a empresa "não vai se esquecer que nossa galinha dos ovos de ouro é a produção de óleo e gás".
Como exemplo de medida para transição energética, o diretor da petroleira citou projeto que pretende transformar a Refinaria de Petróleo Riograndense (RPR) na primeira refinaria totalmente verde no Brasil. "Utilizando somente matéria-prima vegetal e produzindo nafta verde, petroquímica verde, diesel verde e biocombustíveis", destacou.
A exploração na margem equatorial é alvo de críticas de ambientalistas contrários a qualquer nova exploração de petróleo. Já a Petrobras defende que é preciso investir em combustível fóssil até mesmo para financiar a transição energética. Na última semana, a estatal conseguiu autorização para perfuração na Bacia Potiguar da margem equatorial.
Lira manda mensagem
O presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL), apesar de não comparecer à sessão solene, enviou mensagem, que foi lida no Plenário, destacando que a Petrobras é fundamental para transição energética.
"Além de ser essencial no processo para que o país alcance a autonomia da produção de combustíveis, a Petrobras surge como peça indispensável no avanço da transição energética", destacou. Para Lira, os planos e metas da empresa "se alinham com as demandas que chegam a essa casa e já estão postas como prioridade nas nossas próximas deliberações".
Privatizações
Representando os trabalhadores da Petrobras na sessão solene da Câmara, o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP) Deyvid Bacelar defendeu que as privatizações de refinarias nos últimos anos sejam revertidas pela atual gestão. Recentemente, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu a recompra da Refinaria Landulpho Alves, na Bahia, vendida em 2021 para um fundo de investimentos dos Emirados Árabes Unidos.
Para o sindicalista, são positivas a mudança na política de preços da Petrobrás, a suspensão de privatizações e a retomada de investimentos em grandes construções, como da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
"Mas é óbvio que a gente entende que há possibilidade de avançar mais. A gente alcançou autossuficiência na produção de petróleo e a gente precisa alcançar autossuficiência também no refino", destacou Deyvid.
Sobre a transição energética, Deyvid defendeu que é preciso aumentar o investimento no centro de pesquisa da empresa. "Essa tecnologia (ligada à transição energética), obviamente, precisa ficar aqui no Brasil. Para que isso aconteça a gente precisa de mudanças profundas no centro de pesquisas da Petrobras. O centro de pesquisas da empresa vinha sendo sucateado durante esses últimos sete anos", pontuou.
Outro patamar
A parceria firmada entre a Petrobras e a empresa brasileira WEB para produção de geradores de energia eólica no mar, chamada de eólica offshore, foi apontada pelo economista do Observatório Social do Petróleo, Eric Gil Dantas, como principal exemplo de projeto de transição energética liderado pela estatal.
"A Petrobras está fazendo uma parceria com uma empresa brasileira para desenvolvimento tecnológico e de produção de equipamentos no Brasil. É algo que coloca a transição energética no Brasil em outro patamar. O problema é quando o país só exporta energia limpa. Mas se você produz todos os equipamentos no Brasil, inclusive possibilitando a exportação de equipamentos para outros países, você coloca o Brasil em outra posição na economia da transição energética", ressaltou.
Sobre a exploração de óleo e gás na margem equatorial brasileira, o economista do Observatório Social do Petróleo argumentou que ela é necessária porque as previsões estimam a manutenção da atual demanda de petróleo ao menos até 2050.
"Tem que aumentar a participação das energias renováveis, mas eu acho que é importante continuar havendo exploração de novas reservas de petróleo porque se não a gente pode chegar a uma situação de ter que importar petróleo porque deixamos de produzir no Brasil."