Para Natalie Unterstell, texto é histórico - EAESP-FGV/Divulgação
"Na COP anterior, os textos faziam referência à eliminação dos subsídios para combustíveis fósseis e também teve um foco na transição do carvão, que é realmente a fonte mais abundante e muito poluidora. Já o que estamos vendo agora é uma transição que inclui todos os combustíveis fósseis", comparou.
A especialista acrescentou, porém, que a 3ª opção "sem texto" indica que ainda é necessário convencer alguns países. "Os negociadores que estiveram aqui nessa última semana trabalharam em cima dessa proposta e alguns países não veem a necessidade ou se opõem a algumas dessas opções. E aí qual que é o próximo passo? Justamente tentar chegar a um acordo", completou Natalie.
Interesses contrários
Professor Titular do Instituto de Economia a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Carlos Eduardo Frickmann Young - IE/UFRJ/Divulgação
Para o coordenador do Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal da Rio de Janeiro (UFRJ), o professor Carlos Eduardo Young, a inclusão do termo "eliminação" no documento, apesar de poder ser considerado um avanço, não é capaz de produzir mudanças no uso de combustíveis fósseis.
"É um avanço discutir a eliminação progressiva de combustível fóssil no documento oficial? É, sim. Mas é uma novidade na ciência? Claro que não. A gente está dizendo isso há quantas décadas. A Rio 1992 [1ª Conferência do Clima da ONU] falava claramente que o nível de emissões teria que reduzir. só não dizia explicitamente que era o combustível fóssil, mas estava subentendido", ponderou.
O professor Young acredita que, no nível do discurso, as palavras são importantes, mas acrescentou que ainda não existem medidas concretas suficientes capazes para reverter o uso dos combustíveis fósseis.
"Não existe como fazer essa eliminação [dos combustíveis fósseis] de forma ordenada e progressiva porque você tem interesses contrários estabelecidos. Esses interesses são, por exemplo, dos países produtores de petróleo, inclusive o país que cedia e preside essa Conferência", destacou.
O professor Young cita exemplos que indicam que o mundo não deve trabalhar para eliminação dos combustíveis fósseis: o projeto do governo brasileiro de explorar petróleo na margem equatorial do país; a decisão da Venezuela de anexar parte da Guiana, que pode ter relação com o petróleo daquela região; e a posição majoritária do Partido Republicano, dos Estados Unidos, de ser contrário à redução dos combustíveis fósseis.
Brasil no Balanço Global da COP28
O Brasil tem se dedicado aos debates do Balanço Global (GST), uma vez que eles servirão de base para orientar as discussões na COP30, que será realizada em Belém (PA) em 2025, informou a Secretária Nacional da Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ana Toni.
"Não adianta só termos metas ambiciosas a nível nacional e global, muitas declarações, se a gente não lastreia essas metas com planos de implementação, capacidade, financiamento e transferência de tecnologia com mesma ambição", destacou.
Sobre a discussão da eliminação dos combustíveis fósseis, o secretário-executivo do MMA, João Paulo Capobiano, destacou que essa deve ser uma decisão do conjunto dos países e deve incluir alternativas ao petróleo.
"Nós não acreditamos no Brasil que ações voluntaristas de um país seja a solução. É necessário um acordo internacional para construir a eliminação [dos combustíveis fósseis], o Brasil está disposto a construir isso, mas são necessárias alternativas para que isso seja viável, e o Brasil está atuando nas duas frentes", destacou.
Coletiva de imprensa com a Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, junto ao Secretário para Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, Emb. André Corrêa do Lago, a Secretária Nacional de Mudanças do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni e o secretário-executivo do Ministerio do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco - Estevam/Audiovisual/PR
Crise Climática
Os gases do efeito estufa lançados na atmosfera vêm aumentando a temperatura do planeta desde a Revolução Industrial (séculos 18 e 19), principalmente por meio da queima de combustíveis fósseis, o que impulsiona a atual crise climática, marcada por eventos extremos, como o calor excessivo, as secas prolongadas e as chuvas intensas.
No Acordo de Paris, em 2015, 195 países se comprometeram a combater o aquecimento global "em bem menos de 2º C acima dos níveis pré-industriais", buscando limitá-lo a 1,5ºC acima dos níveis antes da revolução industrial.