A região do Portão do Inferno, em Chapada dos Guimarães, a 65 km de Cuiabá registrou dois deslizamentos de terra em menos de 24 horas. Na segunda-feira (11), motoristas que passavam no local gravaram o momento em que veículos transitam na estrada, que não possui nenhuma proteção. À noite, outro vídeo mostra policiais atuando na desobstrução da via causada por outro deslizamento. (Veja vídeo acima)
Segundo o Batalhão de Trânsito Urbano e Rodoviário da Polícia Militar (BPMTRAN), o deslizamento ocorreu por volta das 22h e não houve carros atingidos e nem pessoas feridas. Uma equipe do município de Chapada dos Guimarães fez a limpeza da pista e a rodovia, já liberada.
Em novembro, um relatório divulgado e feito por uma empresa de consultoria especializada apontou rachaduras e quedas de rochas recentes na MT-251.
O local abrange o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães que é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O estudo precisa ser analisado pelo instituto já que nenhuma alteração pode ser feita no local sem autorização.
A Secretária Adjunta de Obras Rodoviárias da Sinfra, Nivea Calzolari, alertou os motoristas que trafegam pela região, pedindo para que observem bem a localidade, se atentando principalmente à velocidade e que redobrem o cuidado em dias de chuva.
O prefeito de Chapada dos Guimarães, Osmar Froner, disse que entende que a faixa de domínio é de uso comum da população e solicita junto ao ICMBio a liberação de uma medida judicial para garantir que o estado cuide da rodovia e permita que o trânsito flua seguro e permaneça contínuo.
"O acesso de ligação do município de Chapada dos Guimarães com a capital é pela MT-251 passando pelo portão do inferno. Precisamos de uma resposta do ICMBio para não prejudicar a economia de chapada, o turismo de chapada, além dos municípios vizinhos do sul e do leste mato-grossense", disse.
Em nota, o ICMBio disse que recebeu os relatórios de análise de medidas de mitigação de riscos na rodovia e que no início de dezembro realizou uma reunião junto com a Sinfra , em que ficou decidido que o licenciamento das obras propostas é de responsabilidade da Sinfra e deve ser feito junto ao Ibama. Veja nota na íntegra.
"O ICMBio recebeu um ofício da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra-MT) solicitando análise sobre as medidas de mitigação dos riscos identificados na rodovia estadual MT 251, na localidade conhecida como Portão do Inferno. Assim, o relatório técnico emitido por empresa contratada pela Sinfra está em análise pelo Instituto. Em 11/12/2023 foi realizada uma reunião entre a Sinfra e o ICMBio sobre as propostas de intervenção na rodovia indicadas no relatório e que possam afetar o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães.
Na ocasião ficou esclarecido que o licenciamento das obras propostas é de responsabilidade da Sinfra e deve ser feito junto ao Ibama, cabendo ao ICMBio manifestar-se junto ao Ibama, conforme prevê a Lei Complementar Federal nº 140/2011.
A responsabilidade legal pela construção e manutenção das rodovias estaduais, incluindo a MT 251, é de competência da Sinfra-MT, cabendo ao ICMBio apenas a gestão do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e a manifestação sobre os impactos ambientais da rodovia à unidade de conservação.
O ICMBio está à disposição do governo do estado de Mato Grosso para orientar sobre as recomendações que possam advir do plano de manejo do parque nacional."
De acordo com um ofício feito pela Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística (Sinfra-MT), foi constatado risco de deslizamento desde 2021.
????O relatório feito neste ano identificou 10 locais com riscos de acidente geotécnico. Três pontos são considerados de criticidade elevada. O documento cita que as rochas apresentam folhelhos alternados com arenitos e que o sistema é muito drenante, fazendo com que a água se infiltre.
"Os problemas de estabilidade estão relacionados com a compartimentação dos blocos de arenitos. Durante chuvas torrenciais, a pressão de água favorece movimentos de tombamento desses blocos. Os blocos mais altos se tornam mais propensos a movimentos de rolamento. Esses arenitos caem em blocos individualizados e por fraturas", diz o estudo.
Dez pontos da rodovia que possuem instabilidades, segundo o relatório — Foto: Azambuja Engenharia e Geotecnia
O estudo mostra que os pontos 7, 8 e 9 são os mais críticos.
O professor de geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Caiubi Kuhn, disse que a possibilidade de deslizamento aumenta durante o período de chuvas e que é preciso tomar cuidado.
"Provavelmente depois de uma chuva atípica de 200 mm, 150 mm há risco de queda. É preciso o motorista se atentar principalmente na época de chuva intensa porque existe uma possibilidade muito maior desses blocos se soltarem. Locais que possuem a coloração mais proximas do vermelho são locais que os blocos já se desprenderam. Uma queda de bloco recente é o indício de que pode ter quedas maiores", disse.
Fonte: Portal G1