"A maioria, 56% dos municípios brasileiros, não têm nenhuma ação climática, apenas 12% têm planos. Desses, 8,5% têm leis, e apenas 1,8% monitora o estabelecimento de uma política pública aprovada. Estamos vivendo as consequências da "não escuta" da ciência, e o futuro será dado a partir das decisões do Congresso."
(MARCOS WOORTMANN, CIENTISTA POLÍTICO E COORDENADOR DE POLÍTICAS AMBIENTAIS DO INSTITUTO DEMOCRACIA E SUSTENTABILIDADE)
"Pânico climático"
Em resposta à tentativa da frente ambientalista de enfrentar as propostas, parlamentares têm usado o tempo de plenário nos últimos dias para chamar atenção para "discursos que incutem o pânico climático", mencionado pela deputada Julia Zanatta (PL-SC) durante a votação da proposta para suspender a dívida do Rio Grande do Sul.
"Fiquemos atentos aos discursos. Aqueles que incutem o pânico climático das fundações e ONGs estrangeiras que usam a descarbonização como instrumento, para destruir o desenvolvimento de países emergentes, o fazem para destruir a concorrência, são aqueles que querem prejudicar as áreas produtivas, o campo, esmagando as pessoas em metrópoles e cidades", afirmou.
A ideia foi replicada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que negou que o episódio no estado gaúcho tenha relação com as emissões de carbono na atmosfera."Eu pergunto: o que está acontecendo no Rio Grande do Sul tem relação com emissão de carbono na atmosfera ou tem relação com o zoneamento urbano de todas as cidades impactadas? Tem a ver com queima de petróleo ou tem a ver com questões geográficas, a realidade regional daquelas várias cidades que estão em uma área suscetível a alagamento?", questionou o parlamentar, durante a votação, no Senado, da proposta que prevê a adaptação do país às mudanças climáticas.
"Se aconteceu algo similar, óbvio que não nas mesmas proporções do que está acontecendo neste momento, em 1941 [quando Porto Alegre enfrentou um alagamento histórico que deixou cerca de 70 mil pessoas desabrigadas], no estado do Rio Grande do Sul, é de se concluir, de uma forma lógica, que não é pelas circunstâncias globais", disse.
"Será que o que está acontecendo agora é por que emitimos mais carbono na atmosfera do que emitia-se em 1941? Não. A realidade é que cidades foram construídas, temos mais asfalto, mais cimento, prédios, menos áreas de absorção de água nessa área que já é propícia a alagamentos. É o crescimento urbano desordenado", concluiu.
PECs fragilizam demarcação de terras indígenas
A situação das terras indígenas está sendo debatida em duas PECs no Congresso. A primeira delas, a PEC 48/2023, propõe incluir na Constituição o "marco temporal de demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas". Esta proposta avançou rapidamente no Senado e busca respaldar o projeto de lei aprovado no ano passado que estabelece esse marco temporal para a demarcação de terras indígenas. Segundo esse projeto, terras indígenas só podem ser demarcadas se houver comprovação de ocupação anterior à promulgação da Constituição Federal, em 1988.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou essa parte do projeto ao sancioná-lo, mas o Congresso derrubou o veto. Essa tese foi rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou o projeto de lei inconstitucional. Por isso, há um esforço para incluir a tese do marco temporal na Constituição.
No Senado, a Comissão de Constituição e Justiça se manifestou a favor da admissibilidade e do mérito da proposta, e a PEC não passará por outras comissões antes da ida ao plenário.
A outra PEC em tramitação no Congresso, a PEC 59/2023, transfere para o Congresso a competência da demarcação das terras indígenas. Atualmente, esse processo é feito pelo governo federal, por meio da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), com base no artigo 231 da Constituição.
A terceira Proposta de Emenda à Constituição em tramitação é PEC 03/2022, que retira a propriedade exclusiva da União sobre os Terrenos de Marinha. Essa proposta está em comissões no Senado, sob a relatoria do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).