Enquanto a Prefeitura "bate no peito" afirmando que 100% dos ônibus em Cuiabá estão equipados com ar-condicionado, a população ainda não viu isso acontecer na prática.
"A maior frota climatizada do Brasil é nossa!", publicou a Prefeitura em sua página no Instagram, há cerca de dois meses.
"Ah, e o melhor, sem aumento de tarifa!", diz outro trecho. A passagem hoje custa R$ 4,95 com direito a integração por tempo determinado.
Enquanto uns comemoram a suposta "vitória", para outros a notícia virou piada. "Primeiro de abril já passou", comentou um seguidor.
"Dizer que está tudo climatizado, sendo que não está, é uma falta de respeito com o povo que necessita do ônibus para trabalhar", disse Juliana Fernandes, de 45 anos.
Ela hoje pega condução esporadicamente e diz que, quando precisa, prefere carros de aplicativo.
"Há um tempinho peguei um com o ar-condicionado estragado e com aquelas janelas que não abrem. O calor era demais, tive que descer no outro ponto. Ônibus lotado, em horário de pico, e com gente passando mal", relembra.
Victor Ostetti/MidiaNews
Ônibus que circula na Capital sem ar-condicionado
"A maioria das vezes, quando eu preciso, volto de Uber, prefiro pagar porque, se depender do ônibus, só chego atrasada", completou.
Segundo Jeferson Martins, que hoje circula em até três linhas diferentes, o ar-condicionado nos coletivos é uma necessidade.
"Faz muita diferença, é muito quente e totalmente desconfortável, porque além de ser lotado, muitos não têm climatização. Inclusive, hoje já cheguei molhado de suor no trabalho", conta Jeferson.
Enquanto a Prefeitura se vangloria por não ter havido aumento na tarifa, a população acha medíocre o serviço entregue hoje.
"Eu acho que está muito caro para o que eles entregam. Frota nova não tem, já peguei uns três ônibus que deram defeito, e dessa frota 'nova', parece até ônibus de teste", disse Jeferson.
Geovânia Conceição Souza, de 46 anos, conta que hoje pega as linhas 115 e 107 e que, no horário que ela toma a condução, consegue sempre fazer o trajeto em ônibus com ar-condicionado.
"Às vezes ainda pego o 410 e nem todos têm ar. Para falar a verdade, eu não me importo se tem ou não, o negócio para mim é ele passar no horário. Mas estão enganando a população dizendo que todos os ônibus da frota têm ar. A população tem que abrir mais o olho", afirma Geovânia.
Cinco horas de vida
A trabalhadora Eliane Muniz, de 49 anos, moradora do Bairro Parque Cuiabá, pega dois ônibus para conseguir chegar ao trabalho. Ela conta que alguns deles ainda são sem ar-condicionado, especialmente os que saem do seu bairro.
"É mentira! É mentira que todos têm ar, mas a gente já está acostumado com essas mentiras da politicagem. Talvez agora que é época de política, eles coloquem mais ônibus na praça", disse.
Eliane disse já ter presenciado várias vezes pessoas passando mal dentro dos ônibus em horário de pico.
Apesar de nem todos os ônibus da Capital terem ar-condicionado, Eliane diz que esse problema fica em segundo plano diante dos demais.
"Eu perco até três horas da minha vida só indo e voltando do meu bairro até o Centro. Para chegar e voltar até o serviço, são pelo menos mais duas. Já calculei que perco umas cinco horas de vida andando de ônibus. É muito tempo. O ar fica em segundo plano, certeza".
"Agora está até um clima gostosinho, mas em setembro e outubro aí vai ficar insuportável. Mas a gente não tem muito para onde correr", disse ela, já meio conformada.
Para Eliane, a demora entre um ônibus e outro e a superlotação dos coletivos em horário de pico são problemas que se sobressaem à falta do ar-condicionado.
"É bem complicado e às vezes o ônibus quebra, é trânsito para chegar aqui no Centro, e isso é diariamente. Quando não é comigo, é com o ônibus do vizinho. Tem um monte de ônibus velho na praça", disse.
"A gente só quer chegar em casa. Só chegar em casa. É difícil, todo dia ônibus lotado, é 6h30 da manhã e não consigo pegar um ônibus vazio que eu possa vir sentada. Moro no meio do bairro e tenho que ir ao ponto final para tentar ir sentada", disse.
Para Eliane, a tarifa da capital também não faz jus ao serviço prestado. "Eu acho muito caro, porque se você parar para avaliar, é quase R$ 10 por dia, que sai do bolso do trabalhador. Pelas condições do ônibus, pela lotação, pelo desconforto de ir uma hora e meia em pé, é muita coisa", finalizou.
Fonte: MídiaNews