Quem diria que o algodão, tão macio, poderia virar um tijolo firme? Um grupo de alunos do curso Técnico Têxtil da Escola Técnica Estadual de Campo Verde (ETEC-CV) desenvolveu um tijolo feito à base de resíduo de algodão. Batizado como 'EcoTijolo', o produto foi apresentado na Mostra Estadual das Escolas Técnicas (III MEET) e promete deixar as construções mais frescas e reduzir o impacto ambiental.
Curiosidades sobre o produto:
Segundo a professora responsável pelo projeto e engenheira agrônoma, Manoela Lara Dias, a ideia surgiu quando os alunos discutiam alternativas para o reaproveitamento de resíduos gerados pelo processo de beneficiamento do algodão. Em 2023, Campo Verde foi o terceiro município do país que mais produziu algodão.
"Optamos pelo tijolo, porque já existem formas prontas para comprar que são mais em conta, as medidas são mais fáceis e as forminhas, nós mesmos que confeccionamos. Vimos que o material é sustentável e se você comparar o tijolo convencional com o nosso tijolo, o preço dos materiais é bem em conta!", explicou.
O beneficiamento consiste na separação das sementes e da fibra do algodão, e tem o objetivo de transformar o algodão colhido na lavoura na matéria-prima utilizada na indústria têxtil.
Após a mistura dos materiais, a massa é colocada em moldes, onde permanece entre 10 e 30 minutos. Em seguida, os tijolos levam cerca de três dias para secar. Para o projeto inicial, os estudantes contaram com doações de resíduos e apoio financeiro da escola para a compra de alguns materiais.
Embora ainda não tenham conseguido construir algo concreto com o "EcoTijolo", Manoela diz que o grupo já iniciou o processo para patentear o produto e buscar parcerias para ampliar a produção e levar o produto ao mercado.
"Acredito muito na sustentabilidade e na possibilidade de eliminar o uso de químicos no beneficiamento do algodão. Durante visitas técnicas a algodoeiras, vimos que muitos resíduos são descartados ou ficam acumulados sem uso. Por que não reaproveitá-los?", destacou.
Viabilidade
O engenheiro civil Paulo Ávila, explicou que a fabricação de tijolos varia de acordo com o material utilizado e o objetivo da construção, mas destacou que opções mais leves, como o EcoTijolo, podem reduzir custos com transporte e facilitar a logística.
Segundo Manoela, testes realizados no EcoTijolo indicaram boa resistência em peças com maior concentração de resíduo, e apresentaram impermeabilidade à água. Veja abaixo os principais tipos de tijolos, com informações gerais sobre preços e pesos:
Segundo o biólogo e bioconstrutor do Núcleo Experimental de Permacultura e Bioconstrução do Pantanal (NEPBIO Pantanal), Diego Miguel Carioca de Paula, tijolos projetados com materiais diferentes e sustentáveis, como o de algodão, podem ajudar a tornar os interiores mais frescos. Em outubro, Cuiabá registrou 44,1°C e estabeleceu um novo recorde de calor para 2024.
"Tijolos feitos com materiais de baixa condutividade térmica são eficientes em criar ambientes mais frescos. Tijolos feitos ou mesclados com materiais que reduzem a condução do calor formam uma barreira de isolamento térmico e muitas vezes acústico também", explica.
O biólogo ainda explica que o descarte inadequado dos resíduos do algodão gera impactos nos ecossistemas, contaminando o solo, a água e o ar. Apesar de a iniciativa ser bem-vinda, o bioconstrutor enfatiza que o projeto do grupo ainda deve enfrentar desafios, já que a procura ainda é maior por tijolos convencionais de barro ou cimento, por já serem mais conhecidos e mais baratos.
"Porque materiais ecológicos ainda não são economicamente atrativos ao público e mercado em geral, isso faz com que esses materiais tornem-se exclusivos e também sofisticados", explica.
Porém, o especialista vê uma possibilidade de dar certo, uma vez que é possível reduzir custos nas fundações, estrutura e acabamento, dependendo do projeto e composição do tijolo. "Iniciativas dessa natureza são totalmente válidas e tem o seu impacto socioambiental positivo. Uma vez que "jogar fora" não existe, tudo acaba sempre voltando, de forma negativa ou positiva", conta.
Mato Grosso lidera o ranking nacional de produção de algodão, respondendo por cerca de 70% da safra brasileira, segundo o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nos primeiros oito meses de 2024, o estado exportou 1.098,8 mil toneladas de pluma, maior volume já alcançado nesse período.
Com condições climáticas e geográficas favoráveis, como temperaturas elevadas, solo fértil e períodos secos, o estado possui o ambiente ideal para o cultivo de algodão. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Algodão, Alexandre Pedro Schenkel, a condição climática favorável ajuda na formação da fibra.
"Com um clima favorável à produção, você consegue ter um produto com maior qualidade e produtividade também", disse.
Em 2023, Campo Verde, a 139 km de Cuiabá, foi o terceiro município do estado que mais produziu algodão e também no país. A cidade é um polo têxtil, onde são realizadas algumas etapas do processo de beneficiamento da fibra. O polo conta com 15 usinas beneficiadoras de algodão.
Fonte: Portal G1