O dólar voltou a ganhar força nesta quinta-feira (26) e fechou aos R$ 6,17, conforme investidores repercutem o cenário internacional e o noticiário político doméstico.
Pela manhã, o Banco Central do Brasil (BC) chegou a fazer um novo leilão para controlar a alta da moeda. A instituição vendeu a oferta integral de US$ 3 bilhões no leilão à vista.
Os leilões de dólar do Banco Central são uma ferramenta de regulação do mercado de câmbio e servem para aumentar a oferta de dólares disponíveis — o que, em tese, faz a cotação cair. Na mínima do dia, chegou a R$ 6,1464, mas não sustentou a queda.
Em uma sessão de menor fluxo pela volta do feriado de Natal, momento em que os mercados ficaram fechados no Brasil, investidores voltam as atenções para o mercado internacional.
Na Ásia, as autoridades chinesas anunciaram que vão aumentar o estímulo à economia do país no próximo ano, tendo concordado em emitir 3 trilhões de iuanes (US$ 411 bilhões ou R$ 2,5 trilhões) em títulos púbicos especiais. Se confirmado, esse será o maior valor já registrado.
Já o governo do Japão afirmou nesta quinta-feira (26) que prevê que a produção econômica atingirá capacidade total no próximo ano pela primeira vez em sete anos, devido a um mercado de trabalho aquecido.
No Brasil, o foco ficou com o noticiário político, após o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) convocar os líderes da Casa para uma reunião, após o bloqueio do ministro Flávio Dino, do STF, às emendas parlamentares.
Por fim, a informação de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve publicar nos próximos dias um decreto presidencial para corrigir o valor do salário mínimo também fica no radar.
Dólar
O dólar fechou em alta de 0,38%, cotado em R$ 6,1773.
Com o resultado, acumulou:
Na segunda-feira, a moeda norte-americana fechou em alta de 1,87%, cotado a R$ 6,1855.
No mesmo horário, o Ibovespa tinha alta de 0,45%, aos 121.311 pontos.
Na segunda-feira, o índice encerrou em queda de 1,09%, aos 120.767 pontos.
Com o resultado, acumulou:
Com o noticiário econômico esvaziado por conta do feriado de Natal, momento em que os mercados também ficam fechados no Brasil, investidores voltam as atenções para o mercado internacional.
Lá fora, o principal destaque fica com a China, após a notícia de que as autoridades concordaram em aumentar o estímulo fiscal para o próximo ano por meio da emissão de 3 trilhões de iuanes (US$ 411 bilhões ou R$ 2,5 trilhões) em títulos púbicos especiais. Se confirmado, esse será o maior valor já registrado.
As autoridades chinesas ainda informaram que aumentarão a pensão básica para aposentados e para residentes urbanos e rurais e que elevarão os padrões de subsídio financeiro para o seguro médio de residentes. As medidas vêm para tentar impulsionar o consumo do gigante asiático.
O país também intensificará o apoio ao comércio de bens de consumo, expandirá o investimento efetivo e impulsionará mais investimentos sociais por meio de investimentos governamentais, segundo o ministério chinês.
Já nesta quinta-feira, o Escritório Nacional de Estatísticas da China informou que revisou para cima o tamanho que sua economia atingiu em 2023, mas indicou que essa mudança deve ter pouco impacto sobre o crescimento deste ano.
Ainda na Ásia, o governo do Japão afirmou nesta quinta-feira que prevê que a produção econômica do país atingirá capacidade total no próximo ano fiscal, pela primeira vez em sete anos. O movimento vem em meio a um mercado de trabalho ainda aquecido.
Na agenda de indicadores, os pedidos semanais de auxílio-desemprego dos Estados Unidos caíram para o nível mais baixo em um mês na semana passada, a 219 mil solicitações, o que é consistente com o esfriamento do mercado de trabalho no país.
Outro destaque fica com a notícia de que a Advocacia-Geral da União (AGU) pediu, na véspera, informações ao Banco Central para basear apuração sobre o Google ter exibido informações erradas sobre a cotação do dólar. A plataforma chegou a informar o valor de negociação da moeda em R$ 6,36.
Procurado, o BC informou que não comentará o caso. O Google, por sua vez, suspendeu a ferramenta de cotação do dólar de sua plataforma após o erro.
No Brasil, as preocupações com o quadro fiscal brasileiro e o noticiário político continuam na mira dos mercados. Nesta quinta-feira, o presidente da Câmara, Arthur Lira, convocou os líderes da Casa para uma reunião por videoconferência para tratar da sucessão na mesa. A eleição deve acontecer em 3 de fevereiro.
Apesar de ser claro o incômodo dos líderes a respeito da decisão do ministro do Supremo, Flávio Dino, de suspender o pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares, Lira informou ao Blog da Ana Flor que "não há possibilidade de a Câmara fazer nada neste momento para reverter" a decisão.
Outra notícia que também ficou na mira dos investidores foi a entrevista do ministro das relações institucionais, Alexandre Padilha, à "CNN Brasil". O ministro fez um balanço do governo em 2024 e indicou as principais expectativas para 2025.
Segundo Padilha, a expectativa é que o Orçamento seja votado entre fevereiro e março.
"Estava tudo pronto para ser votado, mas o relator usou como argumento o fato de que as medidas que consolidam o marco fiscal têm de fato um impacto sobre o detalhamento do Orçamento e a consultoria técnica da Comissão precisava receber medidas primeiro e ver a sanção dela para, com esse detalhamento, poder recalcular o que for necessário", disse o ministro em entrevista.
Já do lado econômico, investidores repercutem a notícia de que o presidente Lula deve publicar um decreto presidencial nos próximos dias para corrigir o valor do salário mínimo no próximo ano. O valor deve subir dos atuais R$ 1.412 para R$ 1.518 em 2025.
Se confirmado o valor, o aumento será de R$ 106, o equivalente a uma alta de 7,5%. A correção vale a partir de janeiro, com pagamento em fevereiro do ano que vem.
Na semana passada, o Congresso concluiu a tramitação do pacote de cortes de gastos proposto pelo governo federal.
A ideia inicial era economizar R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030. Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, no entanto, as mudanças feitas pelo Congresso devem ter um impacto de R$ 2,1 bilhões, reduzindo a economia para R$ 69,8 bilhões.
No café da manhã com jornalistas, na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as mudanças feitas pelos parlamentares não comprometem a conta final feita pelo governo.
"Fala-se em 'desidratação', mas havia expectativa de parte dos analistas que poderia haver 'hidratação' [aumento da potência dos cortes de gastos]. Os ajustes feitos na redação não afetam o resultado final. Mantém na mesma ordem de grandeza os valores encaminhados pelo Executivo", afirmou Haddad.
O mercado, mais uma vez, contesta os números. Para a XP Investimentos, o potencial de economia fiscal recuou de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões.
"Apesar da direção correta, vemos o pacote como insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos", diz um relatório da empresa.
O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público pelos próximos dois anos — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025. O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público.
Mas os agentes financeiros já não esperam grande eficácia das medidas para controlar o endividamento público, e declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Fantástico consolidaram a percepção de que o governo não pretende avançar muito na contenção de despesas.
O mercado tinha a expectativa de que o governo mexesse em gastos estruturais nesse pacote de corte de gastos — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação. Mas isso não aconteceu.
Segundo os analistas, essas despesas tendem a subir em velocidade acelerada e têm potencial de anular esse esforço do pacote em pouco tempo. O governo, contudo, é avesso às medidas, que mexeriam com políticas públicas e com promessas de campanha do presidente Lula.
Segundo o blog do Valdo Cruz, interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que o governo precisa dar uma sinalização mais forte na área fiscal, incluindo o anúncio de medidas adicionais às já anunciadas, para reverter de vez o cenário negativo que reina no mercado neste fim de ano.
Fonte: Portal G1