Pelo menos é assim no Acadêmicos do Salgueiro, primeira escola a divulgar o tema que levará para o Sambódromo da Marques de Sapucaí em 2024. Junto com o anúncio, a escola vermelha e branco da Tijuca apresentou o jornalista Igor Ricardo como seu enredista. Ele terá a responsabilidade de fazer uma extensa pesquisa que vai ajudar o carnavalesco Edson Pereira a desenvolver o enredo Hutukara, que, por meio das tradições da etnia Yanomami, vai fazer uma defesa da Amazônia.
O jornalista disse que, embora não com este nome, a função realmente já existe e não é uma novidade. O próprio Salgueiro tem um departamento cultural que fazia muita dobradinha com os carnavalescos, como foi com Renato Lage, quando ele estava na escola entre 2003 e 2017.
Segundo Igor Ricardo, o departamento cultural desenvolvia a pesquisa e escrevia a sinopse, o que coincide com a função do atual enredista, que trabalha junto com o carnavalesco, faz a defesa dos setores e carros alegóricos e escreve o livro abre-alas, que é distribuído aos jurados para facilitar a análise deles para os quesitos que darão as notas durante os desfiles.
“Não é teoricamente uma novidade. A novidade é que virou glamour. Um status pelo peso que o quesito enredo tem tido nos últimos anos. Aí se elevou à categoria de enredista. Coisa nova entre aspas que está acontecendo, principalmente para o carnaval de 2024”, afirmou.
O currículo do agora enredista já vem desde 2017, quando começou a pesquisar para o enredo da Unidos da Tijuca de 2018, na homenagem ao ator Miguel Falabella. Continuou na azul e amarelo da zona norte no carnaval de 2019. Lá, o trabalho era feito junto com uma comissão..
Em 2020, o enredo Viradouro de Alma Lavada, que levou a escola ao campeonato, teve sua participação, junto com os carnavalescos Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon, na história do Grupo Ganhadeiras de Itapoã, resgatando a bravura das escravas de ganho do Abaeté, na Bahia, que trabalhavam para comprar a alforria de parentes e amigos.
No ano seguinte, por causa da pandemia de covid-19, não houve desfile, mas Igor permaneceu na agremiação de Niterói para o carnaval que, por causa da pandemia, ocorreu fora de época, em abril de 2022, com o enredo Não há tristeza que possa suportar tanta alegria.
Em 2023, o jornalista ajudou os carnavalescos Rosa Magalhães e João Vitor Araújo na elaboração do livro abre-alas do Paraíso do Tuiuti, onde ainda acumula a função de assessor de imprensa.
A responsabilidade de pesquisar o enredo também se estendeu às Séries Ouro e Prata, onde contribuiu para o ganho de várias notas 10 no quesito. Entre as escolas, estava a Unidos do Porto da Pedra, no desfile de 2020, e a União do Parque Curicica, em 2022.
Para o Igor, o fato do Salgueiro ter anunciado o enredo no dia 5 de março, pouco tempo depois do carnaval de 2023, favorece o trabalho, porque terá mais tempo para fazer a pesquisa.
“Nesse ponto é uma vantagem. Há mais tempo para pesquisar, ler livros. As pessoas acham que carnaval é dezembro, janeiro e fevereiro, mas não é. É o ano inteiro. Para ter uma boa pesquisa e um enredo bem desenvolvido demanda tempo. Eu estou lendo três livros ao mesmo tempo. Vejo como um desafio, por ser a primeira escola a lançar o enredo, mas vejo como um desafio gostoso ter mais tempo para fazer um trabalho mais bem-feito.
O jornalista disse que lê também teses de mestrado e doutorado, vê documentários, novelas, vídeos. “Tudo que for de material, vai acumulando a informação”. Ele informou que em maio vai entregar a sinopse com o texto elaborado em cima da pesquisa. É com base nesse trabalho que os compositores vão fazer os sambas da disputa, que começa a partir do fim de agosto ou no mês de setembro.
Igor destacou que é importante a boa comunicação com o carnavalesco ou carnavalescos. Dependendo da escola, pode ser apenas uma pessoa ou uma dupla ou uma comissão de carnaval composta por mais profissionais. “Às vezes, você tem uma informação que é maravilhosa, mas como vai traduzir isso em uma fantasia, um carro alegórico ou transformar em imagem? É importante ter essa integração com o carnavalesco, porque, às vezes, uma coisa é muito linda no papel, na escrita, no texto, mas transformar isso em carro, fantasia, é difícil”, disse.
O tema escolhido, segundo o enredista, tem fatos atuais que podem ser representados na avenida. Ele lembrou que 20 indicados nas principais categorias do Oscar receberam uma estatueta de madeira da divindade Yanomami Omama, semelhante à premiação da academia, como forma de divulgação de uma campanha contra a extração ilegal do ouro na região Amazônica. Não será surpresa se ela estiver representada no desfile de 2024.