A relação entre a quantidade de café que você toma e o número de vezes que vai ao banheiro é quase direta. É só tomar uma xícara que a vontade de fazer cocô aparece (pelo menos na maioria das pessoas).
A teoria que explicava esse fenômeno sempre girou em torno da cafeína, que seria um estimulante natural dos movimentos peristálticos --as contrações intestinais responsáveis pela movimentação do bolo alimentar, ou melhor, as futuras fezes. Entretanto, um novo estudo, divulgado durante a Digestive Disease, em São Diego, na Califórnia, mostrou que talvez não seja só o composto o culpado pelas idas ao banheiro.
Os pesquisadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, deram café 100% arábica para ratos durante três dias e perceberam que a bebida realmente aumentou a capacidade dos músculos do intestino delgado dos animais se contraírem. Entretanto, ao darem café descafeinado aos camundongos, os efeitos foram similares.
"O café tem esse efeito estimulante na motilidade intestinal (capacidade que certos órgãos apresentam de realizar movimentos autônomos), e isso não está relacionado à cafeína. Observamos os mesmos com café descafeinado, por isso é independente da cafeína", afirmou o autor principal do estudo, Xuan-Zheng Shi, professor associado de medicina interna da universidade, ao Gizmodo.
Este estudo não é o primeiro a sugerir que os músculos do intestino são diretamente afetados pelo café. Já em 1990, pesquisadores descobriram que pessoas saudáveis ??que afirmavam fazer cocô após tomar café tinham mais movimento nos músculos do cólon depois de ingerir a bebida do que aqueles que disseram que nunca sentiram vontade.
Como no estudo atual, os efeitos puderam ser observados mesmo quando as pessoas bebiam café descafeinado. E, considerando o pouco tempo que foi necessário para ver essas contrações – em quatro minutos – os pesquisadores do estudo de 1990 especularam que o café poderia estar atuando indiretamente no cólon por meio do intestino delgado ou do estômago. Foi esse mesmo estudo que estabeleceu que nem todos sentem a necessidade de fazer cocô após o café; apenas cerca de 30% das pessoas.
Shi e sua equipe não se limitaram a estudar apenas o intestino diretamente, no entanto. Eles também examinaram as fezes dos ratos. Eles descobriram que havia menos bactérias totais no cocô dos que haviam bebido café em comparação aos que não ingeriram.
E quando colocaram em uma placa de Petri e expuseram as fezes a uma solução feita com 1,5% de café, as bactérias pararam de crescer tanto; o mesmo efeito, mas mais forte, pôde ser visto quando eles expuseram a 3% de café. Assim como antes, o café descafeinado produziu resultados semelhantes.
"Isso é realmente interessante, porque significa que o café poderia ser um agente antibacteriano, e observamos isso novamente com o café descafeinado", disse Shi. "Mas precisamos estudar mais – por que o café pode ter esse efeito de supressão no microbioma."
No momento, ainda é cedo para dizer com que precisão o café poderia estar afetando o ecossistema microbiano em nosso intestino, conhecido como o microbioma intestinal. Sabemos que o microbioma intestinal é um ambiente delicado e, se o café estiver se livrando ou retardando o crescimento de bactérias consideradas saudáveis, isso seria ruim. Por outro lado, outra pesquisa sugeriu que o café pode afetar positivamente a saúde geral do cólon e diminuir o risco de câncer de cólon (como em todas as pesquisas sobre dieta, no entanto, é difícil ter certeza de qualquer coisa).
Outros estudos mostraram uma associação entre o microbioma intestinal e um intestino saudável em movimento. Mas não está totalmente claro como o primeiro afeta o segundo, nem Shi e sua equipe estão dizendo que os efeitos do café no intestino estão definitivamente trabalhando no microbioma – apenas que eles encontraram uma relação interessante para continuar pesquisando.
Mesmo que as bactérias do intestino desempenhem um papel na capacidade do café de nos fazer evacuar, provavelmente não é o único mecanismo envolvido. Portanto, é preciso realizar mais pesquisas para desvendar todas essas influências variadas. Independentemente de como, os autores também disseram que vale a pena explorar se o café deve ser usado como uma maneira relativamente fácil de ajudar pessoas com prisão de ventre ou obstrução intestinal, duas complicações que podem acontecer após algumas cirurgias
Fonte Apoio: CNN Brasil / Revista Galileu/ O Globo
Escrito por: Tatiane Cristina Ferri – Biomédica Responsável pelo Laboratório Labac / Campo Verde-MT