O pastor Nelson Jaime Có é um exemplo de que, quem quer corre atrás e faz as coisas acontecerem. Nascido na Guiné-Bissau, um país localizado na costa ocidental da África e com um dos menores PIB´s do mundo, ele se mudou para o Brasil em 2008, aos 22 anos, instalando-se primeiramente em São Paulo.
Na capital paulista ingressou no curso de teologia, porém, antes de concluir, decidiu mudar-se para Cianorte (PR), onde finalizou os estudos e iniciou como pastor na Igreja Presbiteriana Independente de Terra Boa (PR), cidade em que permaneceu por algum tempo, até ser convidado a dirigir a IPI de Tapejara (PR).
Depois de alguns anos liderando os fiéis na nova cidade, Nelson foi transferido para Rio Branco, no Acre, onde desempenhou a função de pastor até o final do ano passado. Inquieto e apaixonado pelos estudos, se inscreveu para um curso de doutorado na Universidade Federal de Catalão (GO). E foi aprovado.
Para quem não o conhece, Nelson pode parecer apenas um imigrante aventureiro que busca um lugar ao sol em um país que não é o seu. Essa visão é errada. Ele tem consciência de que para vencer no seu novo país, é preciso lutar e aproveitar as oportunidades que surgem. E oportunidade, na visão de Nelson, o Brasil tem de sobra para quem acredita e vai à luta.
"Na minha opinião, hoje, já vivendo no Brasil há quase 15 anos, eu definiria o Brasil talvez em uma frase só: terra de oportunidades", diz ele, destacando que o país é acolhedor e recebe a todos apesar de suas dificuldades. "É um país receptivo, um país que se a pessoa chegar aqui querendo trabalhar, consegue trabalho", observa ele.
Sua afirmação pode não ter a concordância de todos, mas ele destaca que as dimensões continentais do pais, que para muitos são um problema, na sua análise colaboram para o surgimento das oportunidades. "Por exemplo, eu estou aqui em Mato Grosso e não consigo emprego, eu posso ir para o Rio de Janeiro – aparentemente eu estarei em outro país – mas eu, chegando lá, consigo um emprego, ao contrário de outros países que têm tamanho de estados brasileiros", enfatiza.
E para ele, as dimensões do país, aliadas às suas características econômicas e sociais, atraem imigrantes, especialmente da América do Sul e do Caribe. "Não por acaso se tem muitos imigrantes vindo para o Brasil e todos aqueles que querem trabalhar de fato, estão trabalhando", frisa Nelson.
E ele tem propriedade para falar das características do pais e de ver o Brasil como um lugar bom para se viver, afinal, viveu 22 anos no continente africano, onde a pobreza salta aos olhos. Ele lembra que quando chegou ao Brasil, ficou impressionado com a quantidade de frutas para se comprar durante o ano todo. Na Guiné-Bissau, pontua ele, os tempos menos difíceis são durante a temporada de chuva, que começa em meados de novembro e se estende por cinco, seis meses. No resto do ano, as dificuldades para se conseguir o que comer são grandes.
Ele também lembra que seu país natal é exclusivamente agrário e que não há indústria suficiente para absorver a não de obra, restando como opção apenas o trabalho no campo. O maior empregador do país, segundo ele, é o governo, mas como lá não existem concursos públicos, os cargos são ocupados por indicação, o famoso "QI".
E é aí que entra uma característica marcante do povo Bissau-guineese: o gosto pelo estudo. Mesmo por indicação, somente os mais letrados conseguem cargos ou postos no governo. "Quanto mais qualificação, mais chance de você ter um emprego bom", observa.
E chegando ao Brasil, Nelson, que é casado e tem três filhos, sendo duas gêmeas, buscou nas letras a oportunidade para se estabelecer. "Quando cheguei aqui eu não tinha graduação", lembra ele. Hoje, o pastor é formado em teologia, tem licenciatura em filosofia, pós-graduação em administração pública e mestrado em geografia, pela Universidade Federal do Acre.
Na última terça-feira (13), Nelson e a família passaram por Campo Verde em direção a Catalão (GO), onde ele cursará doutorado na área de estudos da linguagem. Para isso, deixou o cargo de pastor em uma igreja na capital do Acre, colocou a família em um Gol e pegou a estrada.
Em Catalão, inicialmente, ele não se dedicará à função de pastor, o que pretende fazer com otempo. Vai se dedicar aos estudos. Como foi aprovado em primeiro lugar para o curso de doutorado, espera receber uma bolsa de estudos da Universidade, o que o ajudará a se manter, pelo menos no início. "O estudo sempre é bom em todos os lugares", ressalta.
Fonte: Valmir Farias