Rede elétrica exposta, muro caindo, vidros quebrados, falta de medicamentos e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Esses são alguns dos problemas existentes unidades de saúde de Cuiabá, revelados pelo quadro "A Cidade Que eu Quero", exibido no MT1, na TV Centro América.
O quadro nasceu de uma pesquisa que buscou entender qual era a prioridade da baixada cuiabana em ralação aos serviços públicos existentes. Durante um mês de pesquisa, a maioria dos participantes escolheu a saúde como prioridade, e espera melhoria na qualidade do atendimento dos postos de saúde e investimento na estrutura das unidades.
Um desses locais que precisa de melhoria é o Posto de Saúde da Família (PSF) do Jardim Leblon. As janelas da unidade estão com vidros quebrados, e para tampar os buracos, placas de PVC e tábuas foram colocadas no lugar. Além disso, paredes estão com mofo, não tem água para os pacientes, o banheiro virou um depósito de materiais de limpeza e a lixeira armazena o lixo infectante sem os cuidados corretos.
Uma placa em frente a unidade de saúde diz que a última reforma foi em 2004 e, o presidente do bairro, conhecido como Chico Leblon, já está cansado de lutar pelo posto.
"Você sente inútil, impotente, porque tem ofício, tem reivindicação, tem abaixo assinado, mas, quando chega onde é para ser resolvido, nada acontece [...] Temos outros prédios que ja forma reformados, porque o do Jardim Leblon não?" questionou.
Segundo a Secretaria de Saúde, atualmente, Cuiabá tem 70 PSF's, que abrigam 111 equipes de Saúde da Família, que era para ser o primeiro atendimento da rede pública. Mas, para a médica especialista em saúde pública, Lívia Pulchério, a população, muitas vezes vai diretamente às Unidades de Pronto Atendimento (UPA's), que deveriam receber casos de urgência, pois não encontram atendimento nos bairros.
"Esses moradores, onde não existe esse atendimento primário, eles vão procurar onde tem porta aberta. Com isso, há uma superlotação nas unidades secundárias, nas UPA's, nas policlínicas, tanto de pessoas que poderiam procurar a unidade básica, quanto de pessoas que já estão com caso agravado, porque elas não tiveram unidade básica para procurar", explicou.
TCE vistoria Centro de Distribuição de Cuiabá e confirma estoque de medicamentos e insumos vencidos — Foto: TCE-MT
Em sete anos e três meses, Cuiabá teve 7 secretários diferentes, além de uma comissão a frente da Secretaria de Saúde. Nesse tempo, a pasta foi alvo de 17 operações policiais, com a prisão de três ex-secretários por supostos esquemas de favorecimento em contratos e desvio de dinheiro durante a pandemia, além de uma CPI na Câmara Municipal para investigar a perda de milhões de reais em medicamentos vencidos, numa denúncia feita pelos próprios vereadores.
Após as operações e denúncias, em março do ano passado, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso determinou uma intervenção feita pelo governo do estado, que, inicialmente, duraria três meses, mas, no total, foram nove.
Conseguir leito em uma UTI, por exemplo, hoje é a maior demanda que chega à Defensoria Pública. Com mais de 800 ações ajuizadas entre janeiro de 2023 e fevereiro deste ano contra a Prefeitura de Cuiabá, pedidos de vaga em UTI's lideram a lista.
A falta de medicamento também é um dos problemas apontados pelos moradores. Problema esse, que Dante Fernandes enfrenta. Ele retirou um tumor na tireoide há mais de 10 anos e vai tomar remédio para o resto da vida. Mas, no posto de saúde, ele recebeu a informação de que só vai conseguir em duas semanas, e as caixinhas que restam estão acabando.
"O atendente falou que não tinha como marcar a consulta, porque a agenda estava lotada, e eu teria que voltar daqui duas semanas para tentar marcar o horário com o médico, e que também não sabia se ia ter vaga", contou.
Assim também é o caso do pai do Ezequiel Nunes, internado na UPA do Verdão, que precisa de um antibiótico, que segundo ele, a farmácia da unidade alegou que tem, mas está em falta. "Agora vamos ter que comprar na farmácia particular, para dar continuidade no medicamento, que é para tomar por sete dias".
O atual secretário de saúde, Deiver Teixeira, disse que uma auditoria feita depois que ele assumiu, em janeiro deste ano, apontou uma dívida na secretaria de saúde de Cuiabá, que passou de R$ 70 milhões, antes da intervenção, para R$ 240 milhões depois da intervenção.
"Nós, enquanto gestão, estamos fazendo todo nosso possível, trabalhando para conversar com as pessoas, com as empresas, com os nossos servidores, passando real situação, pedindo compreensão, pois nós não estamos conseguindo fazer todos os pagamentos que deveríamos fazer, para que a saúde continue existindo com qualidade para população", explicou.
O secretário também disse que aguarda a chegada de R$ 180 milhões do Ministério da Saúde ainda no primeiro semestre deste ano, e que uma parte do dinheiro será usada para pagar dívidas, e a outra, para a reforma dos postinho e, que, a partir de agora, não vai faltar remédios.
"Nós fizemos, no mês de fevereiro, um inventário. Designamos 50 servidores, que ficaram 15 dias contando caixinha por caixinha e lançando no sistema. Diante disso, nós conseguimos agora, de fato, fazer programações, projeções para aquisições, para que nós possamos atender a população, para que não tenha mais falta de remédio", concluiu.
A assessoria de imprensa do gabinete de intervenção do estado disse que a dívida na Secretaria de Saúde de Cuiabá encontrada pelo gabinete em março de 2023, era de mais de R$ 345 milhões, e não de 70 milhões, como alega o secretário na reportagem, e que esse montante consta, no relatório de gestão fiscal do terceiro quadrimestre de 2022, que está publicado no portal de transparência do município.
O gabinete ainda informou que a dívida da Secretaria de Saúde de Cuiabá foi comunicada, por meio do Termo de Ajuste de Conduta (TAC), firmado junto ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), Tribunal de Justiça (TJ) e Ministério Público Estadual (MPMT), e que também realizou o pagamento em dia dos serviços prestados, assim como dos salários e direitos trabalhistas dos servidores.
Fonte: Portal G1