A instituição busca preservar a memória das vítimas e promover a conscientização sobre as violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar na Argentina (1976-1983).
Segundo o Ministério da Cultura, o reconhecimento da Esma como patrimônio do Mercosul contou com contribuição do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A notícia era aguardada pelos argentinos.A ministra da Cultura do Brasil, Margareth Menezes (foto), esteve entre as autoridades que entregaram o certificado, em visita às instalações do Museu Sítio de Memória Esma.
Ela disse que o Brasil também precisa ter um memorial sobre o período ditatorial vivido pelo país. "Também passamos, no Brasil, sobre essa questão da ditadura e da tortura e esta é uma memória muito cara ainda para nós, que também estamos na busca de ações com esta magnitude de ter um memorial. [O objetivo é] que se reflita nas próximas gerações e que até para que a nossa geração também reflita sobre o direito à vida, à liberdade e à democracia", afirmou.
Ela destacou que, na comitiva brasileira em viagem a Buenos Aires, está a presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Maria Marighella, filha do guerrilheiro comunista baiano e ex-deputado, Carlos Marighella, morto em 1969 após aderir à luta armada contra a ditadura militar.
"Essa ação do Mercosul fortalece a chamada de atenção de todos nós, da América Latina, e também do mundo. Porque não queremos mais nenhuma instalação de poder, onde a liberdade de expressão e a liberdade de ideias sejam condenadas, onde a tortura seja o cerceamento da palavra, o que é uma gravidade", salientou.
A presidente da Funarte, Maria Marighella, disse estar emocionada com a aprovação do Esma como Patrimônio Cultural do Mercosul, por ser local de memória das vítimas argentinas da ditadura do país vizinho.
"É com muita emoção que chegamos nesse sítio de memória, nesse espaço que agora é um espaço cultural do Mercosul. Sabemos que a memória é direito de um povo, refunda sonhos e, com a força da cultura, fundaremos esse Brasil, essa América Latina de justiça e igualdade de amanhã", acrescentou.
O ministro dos Direitos Humanos da Argentina, Horacio Pietragalla Corti, disse que este foi o primeiro prédio destinado à memória das vítimas da repressão argentina.
"Entendemos o Esma [como um lugar] emblemático do que foi a ditadura militar não somente para Argentina como para região. Quando começamos a pensar com as autoridades sobre o reconhecimento do museu, compreendemos que este é um prêmio à Argentina. É para toda a América Latina e para os mais de 300 mil presos e desaparecidos em toda a pátria grande. Então, é um prêmio à luta, à resistência, àquele familiar que ainda segue na luta pela justiça, pela memória e pela verdade", explicou.
O ministro da Cultura argentino, Tristán Bauer, agradeceu a presença da ministra da Cultura do Brasil e dos demais ministros da Cultura do Mercosul por terem votado a favor da concessão do certificado de patrimônio cultural do bloco dos países sul-americanos ao Museu Sítio de Memória. "Este é um ato humanitário e bom para a humanidade. E é importante para que essas histórias não se repitam nunca mais", acentuou.
A Esma foi uma instituição militar até 1983, quando a democracia retornou ao país. O local foi reconhecido como um dos principais centros clandestinos de detenção, tortura, desaparecimento e extermínio de perseguidos pelo regime militar argentino. Em 2004, o governo da ex-presidente Cristina Kirchner transformou o prédio em um espaço de memória e museu e o chamou de "Espacio para la Memoria y para la Promoción y Defensa de los Derechos Humanos" ou Museu Sítio de Memória Esma.