Morozov sustenta que somente o Estado pode liderar uma transformação no mundo digital capaz de fazer frente ao poder das Big Techs. "As nações devem investir em setores emergentes e promover novos empreendimentos que desempenhem papeis essenciais em tecnologia, desde microprocessadores para 5G, como Inteligência Artificial (IA)", observou. Como essa agenda enfrentaria, segundo o pesquisador, fortes oponentes, apenas o Estado seria capaz de liderar um desenvolvimento tecnológico com base nacional.
"Haverá oponentes corporativos. Veremos agências de segurança nacional - como a CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos) - se opondo a mudanças. A única maneira de realizar de fato esse sonho é com o Estado equipado com todo seu poder e burocracia esforçando-se para implantar essa visão, ao mesmo tempo protegendo-se contra ameaças de subversão", destacou.
O pesquisador citou o caso da China, que tem ampliado o investimento em semicondutores (chips), infraestrutura digital móvel (5G) e IA. "A China tentou se libertar dessa dependência, e os Estados Unidos (EUA) tomaram medidas significativas para evitar", destacou.
Entre outras medidas, o presidente dos EUA Joe Biden proibiu, no mês passado, novos investimentos estadunidenses em "tecnologias sensíveis" na China, como semicondutores (chips) e IA.
Além disso, Morozov acrescentou que desenvolver infraestruturas digitais e IA alternativas custaria muito dinheiro, o que só poderia ser financiado pelo Estado. "Tem que dedicar recursos, fundos públicos, para desenvolver infraestruturas digitais com bilhões de dólares em investimentos. Empresas como Google e Amazon investem de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões por ano em tecnologia", concluiu.
As tecnologias como semicondutores, inteligência artificial e infraestrutura de telecomunicações móveis (como o 5G), têm sido consideradas por especialistas como um elemento gerador de receitas em diversos segmentos produtivos.
Neste sentido, seu desenvolvimento não está relacionado apenas a um setor de tecnologia de ponta, mas a um elemento base da chamada transformação digital, que já atinge agricultura, indústria, finanças e atividades cotidianas.