A intoxicação alimentar, também chamada de gastroenterite aguda, é uma patologia clínica. Sua causa está relacionada à ingestão de água ou alimentos contaminados por bactérias, fungos ou vírus, sendo os mais comuns a Salmonella, Escherichia coli e o Rotavírus, ou por suas respectivas toxinas.
A contaminação pode ocorrer durante o preparo ou armazenamento dos alimentos. Carne crua ou mal passada, assim como ovos mal cozidos, leite in natura , vegetais não higienizados e alimentos processados são importantes fontes destes agentes.
Dentre as principais bactérias que podem contaminar os alimentos destacam-se as do gênero Salmonella (a espécie de maior relevância para a saúde pública é a Salmonella enterica). E da família Enterobacteriaceae, grande grupo que engloba mais de 30 gêneros e cujas espécies mais representativas são Escherichia coli, além de Klebsiella spp., Proteus spp., Shigella spp. e Yersinia spp.
Muitas pessoas tentam descobrir o que as fez passar mal revendo o que ingeriram naquele dia ou no dia anterior. No entanto, ao consultar um médico por suspeita de intoxicação alimentar, é importante lembrar mais do que o cardápio de apenas um dia antes: os primeiros sintomas provocados por algumas bactérias podem aparecer só 3 dias depois da ingestão do alimento contaminado.
Independentemente do micro-organismo determinante, os efeitos da intoxicação alimentar aguda são todos parecidos: náuseas, vômitos, diarreia, febre, dor abdominal, cólicas, mal-estar. Nos quadros mais graves, podem ocorrer desidratação , perda de peso e queda da pressão arterial.
Nos casos específicos de alimentos contaminados pelo Clostridium, quando a intoxicação é causada por uma das variedades da bactéria responsável pela doença chamada botulismo, além dos distúrbios gastrintestinais que nem sempre aparecem, os sintomas podem ser indicativos de alterações neurológicas, como visão dupla e dificuldade para focalizar objetos, falar e engolir.
Atenção: Crianças, idosos, pessoas com a imunidade comprometida, como transplantados, pacientes oncológicos ou portadores de Aids/HIV, são mais suscetíveis a complicações provocadas pela salmonella e devem receber tratamento médico assim que surgirem os primeiros sintomas.
Normalmente, o diagnóstico é clínico e leva em conta os sintomas da doença. É sempre importante verificar a existência de pessoas próximas com os mesmos sinais da infecção e identificar o tipo de micro-organismo presente no alimento suspeito de contaminação.
Os exames mais comuns para confirmar a suspeita de intoxicação alimentar são o hemograma e os exames microscópicos de fezes, que permitem visualizar anormalidades nos dejetos do paciente. Entre eles, há o exame a fresco de fezes, para detectar a presença de leucócitos que indicam inflamação (infecciosa ou não) decorrente do combate do organismo aos microrganismos. Há também o exame de cultura de fezes, realizado para verificar se existem bactérias enteropatogênicas nos resíduos fecais, e o exame protoparasitológico de fezes, que visa identificar a presença de protozoários.
O maior risco para o paciente com intoxicação alimentar é a desidratação decorrente de forte diarreia. Por isso, é importante ingerir líquidos, especialmente água e sucos. Atenção: não se deve tomar leite, pois nos quadros de intoxicação o organismo pode ficar carente de enzimas que digerem a lactose.
No caso de a diarreia persistir por mais de 7 dias ou se houver desidratação aguda, é necessário realizar exame de função renal. Por meio de uma amostra de sangue, é feita a avaliação do funcionamento dos rins , para verificar os níveis de sódio, potássio, ureia e creatinina, que acabam alterados quando há perda intensa de água.
Paciente com intoxicação alimentar deve fazer repouso e ingerir muito líquido. Nos casos de perda maior de líquidos e risco de desidratação, devem ser indicados medicamentos para controlar as náuseas e os vômitos, assim como administrar a reposição de líquidos e sais por via endovenosa. O tratamento das infecções alimentares bacterianas inclui o uso de antibióticos específicos.
A prevenção das intoxicações alimentares está diretamente associada ao saneamento básico, aos cuidados no preparo dos alimentos e a medidas básicas de higiene, como lavar as mãos antes das refeições e depois de usar o banheiro.
A grande dificuldade da prevenção é o fato de os alimentos contaminados não apresentarem sinais da presença do micro-organismo. Ao contrário, em geral, sua aparência, gosto e cheiro costumam ser absolutamente normais.
Para evitar a contaminação na indústria alimentícia e assegurar a saúde do consumidor, a análise microbiológica identifica microrganismos como a Salmonella com o objetivo de impedir a distribuição de produtos contaminados e a ocorrência de surtos de doenças transmitidas por alimentos.
Escrito por Tatiane Cristina Ferri – Biomédica Responsável pelo Laboratório Labac / Campo Verde-MT
Fonte Apoio:
BERNARDES, Nicole B et al. Intoxicação Alimentar um Problema de Saúde Pública. Id on Line Rev. Mult. Psic. Vol 12. 42 ed; 894-906, 2018
ALMEIDA, Cristiane F. et al. Perfil epidemiológico das intoxicações alimentares notificadas no Centro de Atendimento Toxicológico de Campina Grande, Paraíba. Rev Bras Epidemiol. Vol 11. 1 ed; 139-146, 2008